A Igreja Católica não tornou a Idade Média uma idade de trevas, ela trouxe as luzes de volta à Europa.
Quando frequentava a escola, na década de 1980, ouvi professores chamarem a Idade Média, o período compreendido entre os anos 500 e 1500, de “Idade das Trevas”. Falavam isso descrevendo-a como uma época de superstição, ignorância e aversão ao conhecimento.
Entre os conteúdos recebidos neste assunto, o que teve consequências mais importantes na minha vida foi o que dizia ter sido a Igreja Católica culpada pelo anoitecer do período. Segundo ouvi, ela teria proibido a disseminação do conhecimento, para que pudesse melhor controlar o povo e auferir benefícios políticos e econômicos a partir da cegueira generalizada.
... mesmo sendo jovem na época, deveria ter investigado antes de dar fé a acusações dessa gravidade...
Primeiras invasões
Ocorreu, de fato, principalmente nos séculos VI e VII, um retrocesso cultural imenso. Nesse tempo, houve trevas. Mas o que aconteceu nesses duzentos anos foi culpa da Igreja? Não apenas não foi culpa dela como, ao contrário, a Igreja foi quem tornou a acender a luz no meio da escuridão que se havia instalado.
Eu poderia ter obtido esta informação ainda na minha juventude. O famoso historiador Will Durant, que era agnóstico (portanto, nada católico), já desmentia a fala caluniosa do meu professor de História, com décadas de antecedência. No livro III da sua famosa coleção “História da Civilização”, intitulado “César e Cristo”, publicado pela primeira vez em 1944, Will Durant já dizia:
“A principal causa do retrocesso cultural não foi o cristianismo, mas a invasão bárbara; não a religião, mas a guerra... E a ruína talvez fosse muito maior se a Igreja não tivesse mantido uma certa ordem em uma civilização que se desintegrava”.
Foi pelo trabalho de monges incansáveis, que copiaram manualmente bibliotecas inteiras, que foi preservada praticamente toda a literatura grega e romana a que temos acesso hoje. Foi a preservação desses livros que permitiu o ressurgimento da cultura clássica tempos depois. Graças a isso, no século VIII, Carlos Magno pôde fomentar a educação, estimulando bispos a criarem escolas ao redor das catedrais. O resultado desse estímulo é conhecido como “Renascença Carolíngia”.
Segundo período de invasões
Posteriormente, nos séculos IX e X, a Europa voltou a sofrer invasões bárbaras devastadoras, desta vez, de vikings, magiares e muçulmanos. Novamente, foi graças à incrível resiliência dos mosteiros católicos que a herança clássica ocidental foi preservada. O historiador Christopher Dawson, em seu livro “Religion and the Rise of Western Culture” (A Religião e o Ascensão da Cultura Ocidental), publicado em 1950, diz o seguinte sobre esse período:
“Os grandes mosteiros, especialmente os do sul da Alemanha – Saint Gall, Reichenau e Tegernsee – foram as únicas ilhas remanescentes da vida intelectual no meio do refluxo do barbarismo que, mais uma vez, ameaçava submergir a Cristandade. Porque, embora a vida monástica pareça à primeira vista uma instituição pouco apta para resistir à destruição material de uma época de guerras e sem lei, demonstrou possuir um extraordinário poder de recuperação...
Noventa e nove de cada cem mosteiros podiam ser queimados e os seus monges assassinados ou expulsos, mas bastava que ficasse um único sobrevivente para que se reconstruísse toda a tradição; e os lugares arrasados não tardavam a ser repovoados por novos monges, que retomavam a tradição interrompida, seguindo as mesmas regras, cantando a mesma liturgia, lendo os mesmos livros e tendo os mesmos pensamentos que os seus predecessores. Foi assim que a vida monástica e a cultura monacal retornaram na época de São Dunstan à Inglaterra e à Normandia, vindos de Fleury e Ghent, depois de mais de um século de completa destruição; daí resultou que, um século mais tarde, os mosteiros normandos e ingleses se contavam novamente entre os líderes da cultura ocidental”.
Hoje em dia, estas e outras informações estão agrupadas no livro de Thomas E. Woods Jr., “Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental”, publicado no Brasil pela editora Quadrante.
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