Romeu e Julieta - Shakespeare
- Luís Alberto C. Caldas

- 21 de set.
- 2 min de leitura
[L-068] Entenda a paixão juvenil.
Para compreender Romeu e Julieta, primeiro é preciso ter em mente que não se trata de uma comédia romântica nos moldes de Hollywood, é uma tragédia. Em segundo lugar, não fala sobre paixão em geral, mas especificamente sobre paixão juvenil. Os protagonistas são muito novos: Julieta tem 13 anos apenas, Romeu, pouco mais.
A paixão é fruto da imaginação. E adolescência é um período da vida no qual nossa imaginação naturalmente é limitada, porque tivemos poucas experiências próprias e assimilamos poucas experiências de outros através da literatura (Para entender melhor a palavra imaginação, clique aqui).
Deixe-me dar um exemplo. Meu pai foi a pessoa mais fascinante que conheci em minha vida. Sua personalidade era um feixe extraordinário de bondade, bom humor, cultura, inteligência e humildade. Mas, quando jovem, não percebia quão rara era essa convivência, imaginava que encontraria muitas pessoas como ele no mundo. Passaram-se 55 anos, e jamais encontrei uma parecida. Esse é um exemplo de uma imaginação juvenil não testada. É natural, porque não tinha vivido ainda.
Retomando, em geral o imaginário do jovem é pobre, porque não teve muitas experiências reais e absorveu pouco do repertório de experiências humanas depositado na literatura. Além disso, grande parte do imaginário de que dispõe não foi testado ainda.
Por isso, é natural que o jovem seja, até certo ponto, inconsequente e precipitado, porque não enxerga muitas possibilidades de desdobramentos de suas ações. Em apenas cinco dias, Romeu e Julieta se conhecem, se casam e se matam.
Portanto, a peça trágica é mais sobre a inconsequência da juventude, que leva jovens a atos extremados com muita facilidade. A paixão romântica é apenas um desses casos. Por exemplo, devido a atos inconsequentes, outros jovens morrem ao longo da peça, não apenas os protagonistas.
Por imaturidade imaginativa, jovens se apaixonam desvairadamente não apenas por pessoas, mas também por ideias, por causas, por opiniões, às vezes, as mais tolas. O marketing e os partidos políticos, especialmente os mais oportunistas, se aproveitam largamente dessa característica da juventude.
Quem saía para espancar judeus e opositores, na Alemanha Nazista? Quem pratica atos terroristas em nome de ideologias? Quem acha que tem solução para os problemas do mundo? São os jovens, na grande maioria dos casos.
Todas essas histórias são similares à de Romeu e Julieta; os mesmos ossos (a mesma estrutura), apenas recoberta de carne diferente. Como Romeu aceita com a maior facilidade abandonar seu nome para ter Julieta, outros jovens abandonam facilmente o que são e o que sabem, para seguir a paixão ideológica. E isso quase nunca termina bem para ninguém.
Por isso é que Nelson Rodrigues, vendo a vulnerabilidade dos jovens perante a manipulação política, comercial, religiosa etc., recomendava: "Jovens, envelheçam!".
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