Aprenda a ler 13
- Luís Alberto C. Caldas

- 7 de set.
- 4 min de leitura
[F-008] Aprenda a ler a frase "A imaginação é mais importante que o conhecimento."
Essa frase foi dita por Einstein, o físico que enunciou a teoria da relatividade. Ela apareceu na entrevista dada ao jornal The Saturday Evening Post, em 26 de outubro de 1929 (Para ler a entrevista, clique aqui).
Mas, antes de entender a frase, é preciso entender o que é imaginação. Até porque, no sentido dado à palavra até a Idade Média, imaginação é um tipo de conhecimento. Por isso, para que oponha imaginação a conhecimento na frase, Einstein deve usar essas palavras com um significado mais limitado.
Imaginar é pensar no que é possível ou impossível numa situação. Em outras palavras, imaginação é o conhecimento que temos sobre possibilidades. Por exemplo, quando vemos um cão solto num parque, naturalmente pensamos sobre o que ele pode fazer: sabemos que ele pode latir, abanar o rabo, tentar brincar, atacar (mas não pode tocar trompete, sair voando ou dar “bom dia”).
Esse é um tipo de conhecimento importantíssimo. Por exemplo, toda vez que conversamos com uma pessoa, de acordo com suas expressões faciais, seus gestos e sua postura, imaginamos o que ela está pensando a respeito do que dissemos. Isso basta para perceber que, sem a capacidade de imaginar, não poderíamos viver um único dia sequer.
Ganhamos esse tipo de conhecimento, primeiro, pela experiência anterior que tivemos (sabemos que o cachorro pode fazer aquelas coisas, porque vimos outros cachorros fazendo-as), mas essa é uma maneira insuficiente. Ainda que vivamos cem anos, a quantidade de experiências diretas que poderemos adquirir será muito pequena e pouco variada, precisamos complementá-la por meio de obras de literatura, biografias, filmes, entre outros. Essa é a primeira função da literatura.
A literatura nos permite viver imaginativamente experiências muito diferentes da nossa, ampliando a capacidade de compreender o que outras pessoas pensam e sentem. Por exemplo, como pensa um paciente terminal? Ou alguém que nasceu e viveu num país que sempre esteve em guerra? Como pensa o empresário de sucesso que está para ser tirado do controle de sua própria firma? Como é a vida de um grande artista? E assim por diante.
Pense, por exemplo, em como é importante para um médico que esteja tratando um paciente terminal (paciente terminal é o que está condenado a morrer em breve, sem esperança de cura) saber como esse paciente se sente e como pensa. Mas o médico, assim como a maioria das pessoas nunca passou por essa experiência, a de ser um paciente terminal (nem gostaria de passar por isso). Então, a literatura é o que pode ajudá-lo a ampliar sua imaginação sobre essa situação.
Grandes escritores não inventam estórias a esmo, escrevem sobre aquilo que viveram ou testemunharam diretamente, eles são a melhor fonte de experiências humanas. A outra opção, conversar com pessoas que passaram por experiências similares, não é um bom substituto, porque a maioria não tem boa capacidade de expressão; isto é, raramente as pessoas conseguem pôr em palavras, de modo satisfatório, as suas próprias experiências. O esforço de expressar a experiência humana na sua singularidade, de modo fidedigno, mas ao mesmo tempo tornando-a suficientemente reconhecível para que possa ser dita na linguagem coletiva, é a ocupação fundamental dos escritores literários.
Desse modo, a literatura nos permite, por assim dizer, tomar emprestada a experiência de outras pessoas. Ou, parafraseando Thomas Fuller, a literatura torna um homem velho, sem rugas ou cabelos brancos; privilegiando-o com a experiência da idade, sem as enfermidades e inconveniências que a acompanham.
Infelizmente, contudo, esse é o conhecimento no qual podemos ter o menor grau de certeza (mesmo com uma imaginação treinada). Mas ele é útil assim mesmo, porque basear-se apenas em fatos certos ou de alta probabilidade é um luxo a que apenas a ciência pode se dar, porque tem tempo ilimitado para chegar a conclusões. Por outro lado, para quem age, as certezas geralmente chegam tarde demais. O jogador obteria certeza quanto ao blefe do oponente somente ao fim da partida (quando todos mostrassem suas cartas), mas seria tarde para agir a respeito.
Mas, voltando à frase de Einstein, além de mostrar o grande valor que dá imaginação, ele a contrapõe a um tipo específico de conhecimento, provavelmente o que chamaríamos de conhecimento científico, o qual se encontra codificado em artigos e livros, e que fornece um grau de certeza maior.
Mas vale observar que o conhecimento científico também não oferece certeza total. Basta ver que as grandes teorias, de tempos em tempos, são refutadas e substituídas por outras, para perceber que a ciência não se encontra na esfera dos conhecimentos sobre os quais podemos ter certeza.
Então, o que a frase de Einstein diz é que ele considera mais importante ter na mente uma grande capacidade de pensar sobre possibilidades (a qual se obtém por conhecer muitos casos concretos e particulares, no assunto) do que um grande repertório de conhecimentos codificados na forma de regras mais ou menos gerais.
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