O nó das víboras - François Mauriac
- Luís Alberto C. Caldas

- 13 de set.
- 2 min de leitura
[L-040] A sociedade na qual todas as relações são mediadas pela lei torna-se alienante?
"(...) na medida em que o Estado começa a mediar todas as relações humanas, é evidente que você está num estado já de alienação geral. E a possibilidade de uma vida cristã nessa situação é remotíssima, porque você vai copiar estereótipos de cristianismo já adaptados a esse meio (moderno, burguês, etc.), o qual pode se tornar o maior obstáculo à vida cristã.
Por exemplo, eu sugiro que leiam os livros do François Mauriac (1885-1970), um grande romancista francês, um romancista maravilhoso. O tema dele é exatamente este: como um meio social criado nominalmente sobre valores cristãos (mas que na verdade é uma mistura de valores cristãos com valores da ideologia burguesa, positivista etc.) sufoca a alma cristã. E como, às vezes, num estado de desespero, é só a transgressão da norma social que faz essa alma encontrar-se consigo mesma.
Existe um livro dele que se chama O Nó das Víboras (Le Noeud de Vipères). É um dos livros mais impressionantes que eu já li na minha vida. É a história de um sujeito muito rico, que sabe que vai morrer. Ele sabe que a família inteira quer que ele morra, para pegarem o dinheiro dele. Então, ele decide fazer uma vingança póstuma: pega todos os títulos, as ações etc., e as transfere para outras pessoas, some com tudo aquilo. E no lugar onde eles (sobretudo a mulher dele, que ele odeia) esperam encontrar os títulos, o dinheiro, vão encontrar uma narrativa de todas as misérias que eles viveram em comum.
Mas, na medida em que ele vai contando aquilo, vai fazendo aquela coisa horrível, aquela vingança póstuma, ele vai se encontrando e, nas páginas finais, ele está realmente mais conectado com Deus.
Para ele encontrar, ele precisou romper com toda aquela família respeitável que ele mesmo havia criado. Nós não podemos nos esquecer que essa respeitabilidade burguesa é uma coisa terrível".
(Olavo de Carvalho. Curso Online de Filosofia, aula 4)
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