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O Feijão e o Sonho - Orígenes Lessa

[L-042] Buscar seus sonhos ou a vida "prática", a segurança?



"(...) outro livro da literatura brasileira interessante é O Feijão e o Sonho, de Orígenes Lessa, que também é a mesma coisa. Um homem de classe média-baixa, que sente um apelo da vocação literária, mas que tem a pressão da mulher, a mulher está grávida e ele precisa trabalhar.


É um problema banal, na verdade. O apelo da interioridade é visto através de um símbolo. Esse símbolo é o quê? A profissão literária a que o sujeito aspira. Na realidade, a oposição que existe entre a necessidade de guiar a vida e a ambição literária são dois símbolos. Um simboliza a aspiração interior do homem e o outro, os fatores alienantes.


Note bem que esses próprios símbolos podem se transformar em elementos alienantes — a vocação literária, a profissão literária é um elemento alienante também, por si. Mas na leitura que vocês vão fazer não precisa levar isso em conta. Levem em conta apenas que a ambição literária do sujeito é uma expressão de quem ele quer ser efetivamente, e que existe, no caso, um obstáculo de ordem econômico-social que pesa sobre ele.


Em parte, você vê que o simples fato de colocar a profissão literária como algo que é antagonizado pela situação econômica já é uma maneira alienada de ver. Mas, por enquanto, a nossa literatura não foi além disso. Então, por favor, leiam o livro do Orígenes Lessa que pode lhes dar alguma inspiração nesse ponto.


Eu me lembro que, ainda muito jovem, logo depois de ler esse livro, li as memórias de Goethe. Goethe era um sujeito que achava que nós temos que cumprir todas as nossas obrigações para com a sociedade, porque nós temos que ser superiores a ela e não inferiores. Se nós consentirmos que ela nos marginalize e nos derrube, aí somos escravos dela.


Eu me lembro que, nessa época, eu tinha uma amiga. Era uma moça muito bonita e que era "muito dada", ela ia pra cama com todo mundo — não estou criticando, não, eu a adorava, achava excelente, uma menina de bom coração. E lá pelas tantas, ela ficou grávida de um sujeito. E o sujeito decidiu que não ia assumir o filho, não ia dar ajuda nenhuma para ela, porque ele queria seguir uma carreira artística. Ele achava: “Se eu for assumir essa responsabilidade, acabou com minha carreira artística.”


Bom, eu sei o seguinte: passaram-se vinte ou trinta anos, e o cara não teve carreira artística alguma, e o garoto já está adulto. Naquela altura, creio que eu já tinha quatro ou cinco filhos, e eu pensava assim: Eu vou ter que fazer exatamente o contrário desse sujeito. Vou ter que cumprir todas as minhas obrigações, custe o que custar (Claro que eu sempre estava abaixo delas, sempre estava devendo dinheiro, sempre estava atrapalhado), eu não posso fugir delas, porque se eu fugir delas, eu vou ser um fracote. E se eu for um fracote, o que interessa a minha bela produção literária? Vai ser apenas uma fuga".


(Olavo de Carvalho. Curso Online de Filosofia, aula 4)


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