Aprenda a ler 1
- Luís Alberto C. Caldas
- há 5 dias
- 3 min de leitura
Atualizado: há 18 horas
[F-001] Leia com compreensão a frase "Disciplina é liberdade"
Essa frase, da música "Há tempos" de Renato Russo, é um tanto enigmática. Muitas vezes ouvimos a palavra ser usada como um eufemismo para "punição". Mas os castigos geralmente são aplicados como meio de restringir a liberdade, não de aumentá-la.
A confusão surge, porque punição não é o sentido próprio da palavra. Propriamente, disciplina é obediência a um conjunto de regras explícitas ou implícitas, ou submissão e obediência à autoridade. A obediência às regras ou à autoridade, nem sempre é forçada, nem sempre obtida por punições ou por ameaça de punições. Por exemplo, alguém pode deixar de roubar, por medo de ser preso, mas outro pode deixar de roubar por piedade.
Mesmo assim, a frase ainda parece estranha. Se liberdade é a capacidade de fazer ou deixar de fazer o que se quer, a obediência a regras parece uma restrição da liberdade. Fica parecendo que a frase está errada. Mas será mesmo?
Para descobrir se a frase está errada, terei que buscar na memória ou passar a observar à minha volta, se há situações nas quais obedecer pode aumentar a liberdade de alguém.
Fazendo esse exercício, percebo que pessoas que aprendem habilidades, muitas vezes, se submetem à autoridade de um mestre, que lhes impõe um duro programa de treinamento. E, ao desenvolverem a habilidade, passam a conseguir fazer coisas que não podiam antes.
Por exemplo, por submeter-se a certas regras, que lhe prescrevem infindáveis repetições de determinados movimentos, uma dieta específica, uma forma de pensar e interpretar o que acontece nos treinos e nas competições, o ginasta olímpico é capaz de realizar apresentações que beiram a perfeição, executando movimentos aparentemente impossíveis, girando e voando entre barras, sustentando-se de braços abertos entre argolas. Assista ao vídeo abaixo, para perceber.
Então, por meio da disciplina, o ginasta alcança a liberdade de realizar ou não tais movimentos. Eu não tenho essa liberdade, só tenho a opção de não fazer o que o ginasta faz, a menos que me submeta à disciplina de um treinador experiente.
Qualquer pessoa pode se aproximar de um piano e tamborilar as teclas, produzindo algum barulho, para isso todos têm liberdade. Mas para tocar bem, a esmagadora maioria de nós precisará de muito treino, adestrando os dedos por meio da repetição infindável de séries de escalas musicais, treinando o ouvido por meio de ditados musicais, e assim por diante.
De outro lado, quando uma tropa avança num campo de batalha, as chances de vencer o inimigo são maiores se houver uma tática, isto é, um plano de combate, e se houver também alguém que comande com base nesse plano, garantindo que tudo ocorra como planejado e adaptando o plano às surpresas.
A história mostra que pequenos exércitos disciplinados vencem grandes bandos nos quais cada um faz o que quer. Se lembrarmos que, no passado, a derrota no campo de batalha implicava morte ou escravidão ao derrotado, entenderemos que a disciplina conduz à vitória, a qual, por sua vez, garante a liberdade.
Podemos nos submeter à disciplina também no campo moral ou psicológico. Por exemplo, um bom diretor espiritual pode mandar que seu discípulo, por um período, considere que tudo o que lhe acontece de mal é por culpa dele mesmo. Isso não é verdade, é um exagero, mas pode fazer alguém com tendência à autopiedade passar a ver a vida de outra maneira ("calibrar" seu entendimento, por assim dizer). Quem exagerava para um lado, exagera para o lado oposto por um tempo, para voltar ao centro, ao justo. Isso é também uma disciplina, que liberta a pessoa da pena de si mesma.
Então, lendo dessa forma, percebemos que a frase, num certo sentido, é perfeitamente correta. Provavelmente há outras situações nas quais ela se provará verdadeira. Se lhe ocorrer outro exemplo, escreva nos comentários, para compartilhar com todos.
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