Aprenda a ler 34
- Luís Alberto C. Caldas

- 9 de out.
- 2 min de leitura
Atualizado: 10 de out.
[F-013] “É uma verdade universalmente reconhecida, que um homem solteiro em posse de boa fortuna deve estar necessitado de uma esposa”.
Essa é a primeira frase do livro Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. Como compreendê-la?
Antes de começar a ler o livro, eu havia me informado sobre seu conteúdo. Sabia que tratava, entre outras coisas, de como as famílias inglesas de antigamente (séc. XIX) faziam de tudo para casar as suas filhas com homens ricos. (Obs.: Devemos fazer isso antes de ler qualquer livro - Saiba mais...).
As mulheres de classe alta não trabalhavam; a única maneira que tinham de permanecer ricas era casando-se com homens ricos. Por isso, elas procuravam marido como quem procura um bom emprego hoje em dia.
Então pensei: Por que Jane Austen escreveu a frase dessa forma, se na verdade eram as famílias e as moças que ficavam atrás dos homens ricos, e não o contrário? Os homens ricos queriam curtir a vida, não estavam loucos para se casar. Foi quando eu percebi que a autora estava fazendo uma ironia.
Ironia é a figura de linguagem na qual falamos o contrário do que estamos realmente querendo dizer, como quando alguém vê uma pessoa feia e diz “Olha que pessoa linda!”, ou quando uma pessoa faz uma estupidez, e alguém lhe diz: “Isso foi muito inteligente de sua parte”.
Por isso, o que a frase de Jane Austen está realmente dizendo é que os homens ricos não estão necessitados de esposas; ao contrário, as famílias das moças é que necessitam deles e correm para fisgá-los. Mas se ela dissesse isso, soaria rude.
Jane queria fazer uma crítica aos costumes da época, mas de um modo leve, que parecesse um gracejo, uma piada. Por isso, escreveu como se justificasse o modo de agir daquelas famílias, como se fosse uma lei da natureza, algo que precisa acontecer, como se as famílias das moças visassem ao bem daqueles homens. Desse jeito a crítica ficava mais suave.
É como se, para criticar os costumes brasileiros, eu escrevesse hoje: "É uma verdade universalmente reconhecida, que as tetas do Estado necessitam de bocas capazes de esvaziá-las".
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