Aprenda a ler 31
- Luís Alberto C. Caldas

- 27 de set.
- 3 min de leitura
[P-017] Aprenda o que significa a palavra paciência.
Certa vez, um homem teve o seguinte diálogo com Deus:
_ Senhor, posso lhe perguntar algo?
_ Claro que sim...
_ O que é um milhão de anos para o Senhor?
_ Um segundo.
_ E o que é um milhão de dólares para o Senhor?
_ Um centavo.
Então o homem prosseguiu:
_ Deus, o Senhor pode me dar um centavo?
E Deus respondeu:
_ Claro! É para já! Espere só um segundo...
Podemos ter tudo o que quisermos, mas não na hora que queremos. Isso faz parte da estrutura da realidade. Para conseguirmos alguma coisa, precisamos juntar as condições para consegui-la, e antes ainda juntar as condições para conseguir aquelas condições. Isso leva tempo.
Suportar a ausência do bem que desejamos, enquanto as condições são preparadas, exige paciência. A palavra paciência deriva de paixão. Ação e paixão são termos correlatos. Paciente, no seu sentido mais geral, é propriamente aquele que recebe a ação de um agente.
Por isso, convencionamos chamar de paciente aquele que recebe passivamente os cuidados de um médico. Esse é um sentido mais específico da palavra.
E como, muitas vezes, a ação que recebemos de outro nos causa sofrimento, convencionou-se chamar de paciência a virtude que nos leva a sofrer os males que não podemos evitar, sem fazer escândalo, sem cair no ridículo, sem desesperar (como a define o dicionário Rocha-Pombo, da Academia Brasileira de Letras).
A paciência se refere mais aos sofrimentos psicológicos do que aos sofrimentos físicos. O que mais nos faz sofrer nas dores físicas é a pena que sentimos de nós mesmos, o sentimento de sermos injustiçados. A história nos mostra pessoas que padeceram grandes dores físicas sem se abaterem moralmente, e o dia a dia nos mostra pessoas que se abatem por pequenos incômodos.
Paciência ou impaciência são determinantes nos nossos acertos e erros na vida.
Depois que planta uma semente, a criança ansiosa por saber se está ou não germinando, cava a terra para olhá-la no dia seguinte, e novamente no segundo dia, e no terceiro, e no quarto, e assim não permite que a planta nasça.
Há muitas decisões que sabemos ser certas, mas que nos fazem antever longos períodos de sofrimento, esforço ou espera. Nessa hora, a grande tentação é começar a buscar argumentos para contrariar a verdade que conhecemos perfeitamente bem, para assim nos desculparmos do erro que pretendemos cometer.
Isso é o que, em psicologia, se chama de racionalização. Racionalização é um mecanismo de defesa psicológica que consiste em justificar comportamentos, ações ou sentimentos inaceitáveis, utilizando explicações ilógicas ou falsas, porém aparentemente razoáveis, para proteger a pessoa do desconforto psicológico, da culpa ou de uma autoimagem negativa.
A pessoa se encontra na seguinte situação. De um lado há o que ela sabe que é o certo a se fazer, mas que trará períodos de sofrimento. Só de pensar neles, ela já sente antecipadamente grande aflição. De outro, há o que, apesar de errado, atenua o sofrimento psicológico antecipatório. Mas esse erro lhe causa outro sofrimento, o da culpa.
Se a pessoa não tem paciência (essa capacidade de aguentar o sofrimento sem desesperar), ela busca a racionalização, para atenuar o sofrimento da culpa, e decide pelo que sabe que é errado; menos para evitar o sofrimento futuro que para evitar o pavor que a antevisão do sofrimento futuro lhe causa no momento. Nessa hora, a pessoa amou mais seu conforto psicológico que a verdade.
Mas é o apego à verdade que nos torna inteligentes. Abandonar uma verdade nos faz emburrecer imediatamente, não apenas para aquela verdade, mas para diversas outras, porque as verdades são interligadas por natureza. E emburrecer é plantar sofrimentos maiores para o futuro.
Por isso, o sábio é paciente, em especial nos sofrimentos psicológicos. Deixar de ser paciente é deixar de ser sábio. Esse, parece-me, é o sentido das palavras de Jesus: "Quem quiser me seguir tome sobre si a sua cruz e siga-me" (Mateus 16, 24).
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