Aprenda a ler 5
- Luís Alberto C. Caldas

- 29 de ago.
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Atualizado: 31 de ago.
[P-005] Aprenda o que significam exatamente as palavras abstração, percepção, concreto, abstrato, conceito, essência, individualidade, definição, classe, gênero, espécie, substantivo concreto, substantivo abstrato.
De acordo com o dicionário Aurélio, abstração é o “ato de separar mentalmente um ou mais elementos de uma totalidade complexa (coisa, representação, fato), os quais só mentalmente podem subsistir fora dessa totalidade”.
O processo de abstração
O Processo de Abstração é descrito por Aristóteles, como se segue: Primeiramente, os sentidos – visão, audição, tato, olfato e paladar – operam sobre o objeto presente diante de nós e daí produzem um percepto, ou uma percepção do objeto. "Um percepto é a apreensão sensível de uma realidade individual, na presença desta (fazendo uma analogia, é como a imagem que o artista capta enquanto está pintando um retrato, a imagem que está na mente do artista enquanto está olhando para o modelo)". (Joseph, 2014)
A imaginação produz um fantasma ou imagem mental do objeto individual percebido, que é retido na memória e pode ser reproduzido à vontade na ausência do objeto. "O fantasma é imagem mental de uma realidade individual, na ausência desta (como o retrato já pintado pelo artista, que é retido e olhado quando se queira, por anos a fio, mesmo na ausência do modelo retratado)" (Joseph, 2014).
A partir do fantasma presente na imaginação, o intelecto separa (abstrai), uma série da atributos do fantasma que não são necessários para que o ser representado seja o que é.
Por exemplo, quando vemos um gato branco e magro deitado no canto da sala, sabemos que não é necessário estar deitado para ser um gato (gatos continuam a ser gatos se estiverem correndo, pulando etc.), tampouco é necessário ter a cor branca para ser gato (há gatos pretos, pardos, amarelos etc., e ainda são gatos), também não é preciso que o gato seja magro para ser gato (se ficar gordo, não deixa de ser gato), nem o animal deixa de ser gato se não estiver no canto da sala (gatos podem estar no telhado, em cima do sofá etc.). Sabendo disso, o intelecto abstrai a posição, a cor, a corpulência, a localização do gato e todos os outros atributos que não são necessários para que o gato seja gato.
Chamamos de essência esse conjunto de características que são estritamente necessárias para o ente ser aquilo que é (o que faz de uma árvore uma árvore ou de uma cadeira uma cadeira). A apreensão intelectual dessa essência é o conceito geral ou universal (de árvore ou de cadeira).
A essência, portanto, está no ser, o conceito é a representação dela na mente. Devemos lembrar que o que faz um gato ser um gato não é o processo de abstração que ocorre em nossa mente, é a essência, que é uma “fórmula” interna do ser – faz parte dessa fórmula o que a biologia, hoje, chama de DNA.
Um conceito geral é uma ideia universal existente apenas na mente, mas que tem seu fundamento fora dela: na essência que existe no indivíduo e faz dele o tipo de coisa que é. Vista por outro ângulo, a essência é aquilo que, num indivíduo, o faz semelhante aos outros de sua espécie; enquanto sua individualidade é o que o faz diferente dos outros de sua espécie.
O ente real (bem como os correspondentes percepto e fantasma) é individual e limitado a um lugar e tempo particulares; por sua vez, o conceito é universal, imaterial e não limitado a um lugar ou tempo particular.
Um conceito geral é universal porque é o conhecimento da essência igualmente presente em todo e qualquer membro de uma espécie, a despeito do tempo, lugar ou de diferenças individuais. P. ex., o conceito de “cadeira” é o conhecimento da essência “cadeira”, que deve estar presente em toda e qualquer cadeira em todos os tempos, em todos os lugares, independentemente do tamanho, peso, cor, material e outras diferenças individuais.
Definição (essencial) é a expressão verbal descritiva de um conceito geral. Normalmente é elaborada pela determinação do gênero a que pertence o ser, somada à diferença específica (diferença que distingue o ser dos demais seres do mesmo gênero), como na definição de homem: animal racional (gênero = animal + diferença específica = racional).
Classe é qualquer agrupamento estabelecido com base em um conjunto qualquer de características comuns. O conjunto das pessoas nascidas no Brasil, por exemplo, pode ser uma classe (engloba, portanto, pessoas vivas e que já morreram); as mulheres que estão atualmente vivas no mundo pode ser uma classe.
Gêneros e espécies são tipos especiais de classes. Uma espécie é uma classe composta de todos os indivíduos que têm em comum a mesma essência (específica). Um gênero é uma classe mais ampla composta das várias espécies que têm em comum a mesma essência genérica. Por exemplo, flor é o gênero a que a rosa, a violeta, a tulipa e qualquer outra espécie de flor pertencem, porque a essência (genérica) floral é a mesma em todas elas.
Enfim, quando apreendemos uma essência, guardamos mentalmente o esquema de tudo o que é necessariamente igual nos seres de uma mesma espécie e afastamos da mente de tudo o que é variável de um para o outro.
Concreto e abstrato
A diferença entre concreto e abstrato é a diferença entre a percepção do indivíduo com todas as suas características individuais (essência e individualidade) e a apreensão da essência apenas.
Isto é, na percepção concreta de um gato determinado, uma série de aspectos secundários, que individualizam e distinguem aquele gato de outros gatos será acrescentada à apreensão da essência (gato). Você vai saber, por exemplo, que é um gato rajado e não preto, que é grande e gordo em vez de pequeno e magro, que está deitado e imóvel em vez de correndo e saltando etc.
Nem tudo o que é imaginário é abstrato
Um livro de ficção, por exemplo, descreve seus personagens com a maior riqueza possível de detalhes significativos, e a mente do leitor instintivamente completa os detalhes que faltam, para que possa ter uma visão viva dos acontecimentos narrados. Por isso, personagens não são ideias abstratas, mas concretas.
Obs.: abstração de atributos ou de essências
Abstração de atributos
Usamos o termos abstração para duas operações diferentes. Numa delas, abstraímos (afastamos) tudo o que varia de um ente para outro e agarramos apenas o que é permanente em todos os entes de uma mesma espécie.
Por exemplo, a definição de triângulo é algo como: figura geométrica formada por três retas que se encontram duas a duas e não passam todas pelo mesmo ponto, formando assim três lados e três ângulos. Essa é a expressão verbal do conceito de triângulo (e da essência triângulo que se encontra em todos os objetos triangulares que existem, existiram ou existirão). Desta essência decorrem propriedades como, por exemplo: a soma dos ângulos interno de qualquer triângulo é sempre e inevitavelmente 180 graus.
Abstração de essências e parte dos atributos
Há, contudo, outro tipo de abstração, que não abstrai os atributos para agarrar mentalmente apenas a essência; ao contrário, abstrai a essência para considerar mentalmente apenas um dos atributos dos entes (cor, tamanho, quantidade etc.). Não vemos andando por aí a cor vermelha, sempre vemos um objeto vermelho; não vemos o número dois andando por aí, vemos duas coisa realmente existentes; não vemos a paternidade, vemos um pai e um filho; não vemos a beleza, vemos coisas belas. Mas é possível à mente humana separar esses atributos dos entes nos quais eles existem e considerá-los à parte, como se tivessem existência própria.
É o que acontece, por exemplo, na matemática, quando a aritmética considera a quantidade sem fazer referência aos entes. Quando dizemos 2+2=4, abstraímos tudo o mais e percebemos somente quantidades sem seres. Esta expressão matemática poderia ser lida assim:
“duas coisas quaisquer (sem querer saber o que sejam, nem que cor, tamanho, idade etc. tenham) somadas a duas outras coisas quaisquer totalizam quatro coisas quaisquer”.
Nunca vimos realmente um 2+2=4, sempre vimos “duas frutas mais duas outras frutas totalizarem quatro frutas”, “duas pessoas acompanhadas de duas pessoas outras, somarem quatro pessoas”, “juntarem duas pedras a outras duas pedras e obterem quatro pedras” ou coisas semelhantes.
É por isso que dizemos que a matemática é abstrata, devido a este segundo tipo de abstração. Na verdade, a maioria das atividades que atualmente são chamadas de ciência, fazem este tipo de abstração: consideram um determinado atributo dos entes e desconsideram essências e todos os demais atributos que constituem as individualidades.
Concreto e abstrato na gramática
Já na gramática, os termos concreto e abstrato seguem outra regra. Como vimos, palavras como “homem”, “cavalo” ou “flor”, quando se referem a espécies (ou seja, quando não estão individualizados por expressões do tipo “este homem”, “aquele cavalo”, “a flor que está em cima da mesa”), são abstrações. Contudo, na gramática, convencionou-se classificar palavras como essas (“homem”, “cavalo” e “flor”) como “substantivos concretos”.
A gramática guardou o termo “substantivo abstrato” para o segundo tipo de abstração a que nos referimos aqui, aquele que trata de um atributo dos seres como se tivesse existência independente, como a palavra "beleza" na frase: a beleza salvará o mundo.
Novamente, não vemos a beleza andando por aí, vemos coisas belas. A beleza depende de outro ser para se manifestar. Esta é a característica dos substantivos abstratos, eles designam estados, qualidades, ações e sentimentos dos seres, dos quais podem ser separados mentalmente, mas sem os quais não poderiam existir. Por exemplo, são substantivos abstratos: vida (estado), rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade (sentimento).
Referências
Irmã Miriam Joseph. Trivium. São Paulo: editora É Realizações, 2014, págs. 36 a 46.

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